sexta-feira, 10 de julho de 2009

ESMAE 2008/2009 - Motivações que determinam a opção pelo Teatro e Direcção de Cena

Ouve-se o grito de guerra e inicia-se uma contagem decrescente. Escurecido um lado e iluminado o outro, apenas se sente o vulto e o palrar de uma sociedade, acompanhado por uma música ambiente. E, inquietamente, de corpo trémulo, se espera uma acalmia que não tarda a chegar… Luz nos actores e o espectáculo começa! E, entre tensão e risos, o que demora uma hora resume-se num ápice e no ressoar dos aplausos de uma multidão em delírio. Nasce então o gosto pelo teatro.
Quatro anos e meio sobre um mesmo palco, em digressão com um mundo de pessoas, assistindo a um deambular de personagens distintas e igualmente enriquecedoras, aprendendo a crescer encarando um público crítico, evocando e recriando histórias idealizadas, procurando a oportunidade de, em êxtase, existir em diversas formas e feitios, eu cresci.
Porém, não me bastando, tive a ousadia de me aventurar em novas experiências, encontrando assim Direcção de Cena. E, com alguns conhecimentos (organizando figurinos, anotando um espectáculo, ajudando encenadores), nasce o interesse de me projectar enquanto directora de cena, acreditando num bom desempenho profissional, visando não só adquirir as devidas competências na área como também continuar a assimilar um conjunto de saberes numa variedade de formas e processos de criação teatral. Assim, não conseguindo abstrair-me do desejo de permanecer neste espaço onírico em que aprendi a ser eu própria, decido inscrever-me na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo.
Este não é, de forma alguma, um desejo leviano ou inconsciente. Embora não possa arrogar-me ao direito de afirmar conhecer seja o que for acerca de Direcção de Cena, mundo que ainda pouco domino, conheço-me, no entanto, a mim própria: depois de quatro anos passados a querer viver em cima de um palco, encontro-me agora num momento da minha vida em que quero viver atrás dele. Chego assim à conclusão que aquilo que mais me marcou neste meu percurso não foi o trabalho como actriz em específico, mas sim, mais generalizadamente, o trabalho em Teatro. E como disso eu não consigo, nem quero, abdicar, tento agora ingressar neste curso.
A meu ver, Direcção de Cena permite-me conhecer verdadeiramente o que é o Teatro, pois, forçosamente, um bom director de cena é aquele que conhece a mecânica intrínseca de um dado espectáculo tanto por dentro como por fora, ou seja, tanto artística como tecnicamente, tornando-se assim num intérprete privilegiado das várias linguagens teatrais e servindo como o unificador de todas elas, fornecendo às outras áreas criativas os meios logísticos, informativos, organizacionais e técnicos para que elas se possam expressar de forma plena; em suma, possibilitando que o Teatro aconteça.
Acho que me viciei nisso, nessa vontade de fazer acontecer Teatro, de criar, de ver a realidade desdobrar-se em novas possibilidades e novos espectáculos. Não me consigo imaginar apartada dessa minha vontade e não me consigo imaginar a fazer qualquer outra coisa senão a concretizar essa mesma vontade. Disso, ainda que de mais nada, eu tenho certeza.